A consolidação do setor farmacêutico na economia global: crescimento, influência, desvios e marketing

Este trabalho investiga como o setor farmacêutico tornou-se um dos maiores e mais influentes setores econômicos da atualidade. Apresenta números e informações que respaldam essa afirmação e busca elucidar os fatores que contribuíram para tal ascensão. Desde a descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928, as indústrias farmacêuticas evoluíram de pequenas entidades - muitas vezes familiares e de atuação local - para corporações multinacionais avaliadas em centenas de bilhões de dólares com influência global. Entretanto, além da descoberta e diversificação de medicamentos, do aumento da demanda e da expansão da capacidade produtiva, parte dessa evolução é sustentada por estratégias complexas e, em alguns casos, perversas, que priorizam a maximização dos lucros em detrimento da saúde pública e individual. Os achados deste estudo revelam que, nas últimas duas décadas, as receitas do setor quadruplicaram, atingindo 1,48 trilhão de dólares em 2022, um montante comparável ao Produto Interno Bruto (PIB) de países desenvolvidos, como a Espanha. As vinte maiores empresas do setor possuem um valor de mercado combinado de US$ 3,5 trilhões e ativos totalizando US$ 1,86 trilhões, gerando receitas anuais de US$ 820 bilhões e lucros de US$ 181,6 bilhões. Para contextualizar, somente os ativos dessas companhias são comparáveis ao PIB de todos os países da África Subsaariana. Empresas, como a Johnson & Johnson, possuem um valor de mercado que supera o PIB de 184 nações. O estudo também examina e discute práticas questionáveis adotadas pela indústria farmacêutica, incluindo o investimento de bilhões de dólares em lobby e financiamento eleitoral, influência sobre órgãos reguladores, apoio financeiro a organizações de pacientes, patrocínio a autores de "Diretrizes Clínicas", manipulação e ocultação de pesquisas e testes de medicamentos, e o direcionamento de investimentos maciços para fortalecer laços com prescritores, hospitais universitários e instituições acadêmicas. São fornecidos exemplos concretos dessas ações, apoiados por estudos, levantamentos de dados e decisões judiciais, que ressaltam as consequências alarmantes desta realidade. Por fim, a pesquisa analisa o marketing farmacêutico como uma das principais estratégias de aumento de vendas. A despeito dos medicamentos não serem mercadorias comuns, suscetíveis à promoção sob a lente do consumo desenfreado, as empresas investem bilhões anualmente em publicidade dirigida diretamente ao consumidor. No contexto brasileiro, o setor farmacêutico destaca-se como um dos principais investidores em marketing. Nos últimos anos, diversas empresas da área figuraram entre os maiores gastos individuais com propaganda. A emergência de estratégias de marketing digital impulsionadas pela internet, algoritmos avançados e redes sociais, junto a campanhas publicitárias nocivas à saúde pública e coletiva, ratificam um cenário preocupante e desafiador.