Gentileza gera gentileza? Discutindo os impactos de “gentilezas urbanas” em empreendimentos imobiliários da cidade de São Paulo

Estudos diversos apontam sobre a necessidade de se produzir “arquiteturas” que admitam relacoes mais gentis e respeitosas para com a cidade e seus cidadaos. Diante disso, alicerca-se na teoria de Tenorio (2022) do edificio gentil (the kind building), e de como este seria benefico a vitalidade urbana, a partir da consolidacao de estrategias que contribuam para a caminhabilidade e a vida publica, em geral. Nas ultimas decadas, estabeleceu-se, na maioria das cidades brasileiras, um modelo de edificacoes autonomas, isoladas umas das outras, afastadas da rua e com entradas privativas (NETTO, et al, 2017). Aponta-se contudo, que esse modelo pode ser prejudicial a vitalidade urbana, a qual tende a melhorar conforme aumenta-se a relacao de harmonia e reciprocidade entre as interfaces publico-privadas desses edificios (HERTZBERGER, 1999). Nos ultimos anos, e possivel identificar a ascensao de um discurso, mobilizado por incorporadoras e entidades do mercado imobiliario, pautado na ideia de “gentileza urbana”, entendida como um conjunto de modalidades projetuais favoraveis a uma relacao entre espacos publicos e privados de melhor qualidade. Alternativas como ativacao de fachadas, mistura de usos e implantacao de amenidades e atrativos voltados, a primeira vista, para o uso publico, estao no rol destas decisoes de projeto ditas “gentis” com a cidade. Apesar disso, discute-se o real impacto dessas “gentilezas”, e estudos apontam que, quando realizadas sob uma logica de producao hegemonica do espaco, elas poderiam estar relacionadas com a segregacao socioespacial de seus territorios (PADUA, 2018). Neste artigo, pretende-se, desenvolver uma pesquisa de estado da arte com o objetivo de se entender a ocorrencia do fenomeno da gentileza urbana em empreendimentos imobiliarios da cidade de Sao Paulo e os seus possiveis impactos para a vitalidade urbana.